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sábado, 20 de março de 2010

Bento XVI exprime a "vergonha" de toda a Igreja

Da France Presse



Bento XVI exprimiu a "vergonha" e o "remorso" de toda a Igreja Católica ante os abusos cometidos por religiosos, em carta endereçada aos fiéis irlandeses, divulgadas neste sábado, num país abalado por um escândalo envolvendo seu clero, ao mesmo tempo em que usou de rigidez para com o episcopado que encobriu os casos.

"Muitos dentre vós foram suficientemente corajosos para falar sobre o que estava acontecendo", mas ninguém as ouviu, lamentou Bento XVI, ao se dirigir às vítimas.

"Em nome da Igreja, expresso abertamente a vergonha e o remorso que experimentamos todos", disse, em mensagem de sete páginas que será lida domingo em todas as paróquias irlandesas.

O Papa se disse "profundamente desolado" com os sofrimentos, mostrando-se disposto a encontrar as vítimas, como ele o fez durante suas viagens nos Estados Unidos e na Austrália, em 2008. A oportunidade disso poderá ser na próxima viagem à Grã-Bretanha, em setembro.

"É um excelente texto no qual percebemos uma verdadeira compaixão", afirmou um especialista do Vaticano, destacando o "tom inabitual" e as "palavras muito duras empregadas".

Em sua opinião, o texto que evoca a necessidade de uma "nova visão" e deseja uma "renovação espiritual" faz prever profundas mudanças na hierarquia católica irlandesa.

As reações na Irlanda foram contrastadas. O chefe do episcopado, Sean Brady, desejou que o documento marque "o começo de uma grande temporada de renascimento e de esperança na Igreja irlandesa". Mas as vítimas se mostraram críticas : Maeve Lewis, do One in Four, considerou "a ausência" de desculpas "dolorosa".

Na carta, Bento XVI afirma que os religiosos, entre eles padres e monges, culpados de pedofilia devem "responder" não apenas "diante Deus", mas também ante a justiça dos homens. "Traíram a confiança" de "jovens inocentes" e de "seu pais" e "cobriram de vergonha e desonra seus confrades", afirmou.

Aos bispos acusados de terem encoberto centenas de atos pedófilos cometidos durante várias décadas por religiosos, ele repovou os "graves erros de julgamento" e as "faltas" na gestão desses crimes.

A carta não faz menção ao destino que será reservado aos três bispos irlandeses demissionários, porque "não é um documento sobre medidas jurídicas ou administrativas", segundo o porta-voz do Papa, o padre Federico Lombardi.

"Nunca escreveu uma carta deste tipo", destacou, fazendo um apelo a que não se subestime seu alcance".

É a segunda vez em seu pontificado, iniciado em 2005, que Bento XVI pega a caneta para se dirigir aos fiéis, após mensagem redigida no início de 2009, em seguida à polêmica sobre o levantamento da excomunhão de quatro bispos lefebvristes, entre eles o negacionista Richard Williamson.

O Papa também anunciou iniciativas concretas, como a "visita apostólica", isto é uma investigação "em várias dioceses da Irlanda", assim como em "seminários" e "congregações religiosas". A medida deverá ajudar a Igreja local "no caminho da renovação".

Também propôs um grande movimento de reflexão, "em nível nacional" para todos os homens da Igreja.

Ao expressar a "vergonha" e o "remorso", Bento XVI estende, "simbolicamente" sua proposta a todos os países tocados por escândalos semelhantes, principalmente a Alemanha, seu país natal, comenta o vaticanista Marco Politi, cronista de Il Fatto (jornal de esquerda).

"Este documento vale para a Igreja universal", acrescentou, destacando que o "o Papa assume diretamente a responsabilidade por estes crimes".

Áustria, Suíça, Holanda, mas também Brasil, Espanha e Itália estão confrontados nos últimos tempos a denúncias semelhantes.

cj/fka/sd



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