Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Uma
das mais conhecidas parábolas de Jesus, a do filho pródigo, narra uma
parte difícil da história de um pai e seus dois filhos. O mais moço
resolveu pedir ao pai sua parte na herança, partindo depois para uma
terra distante, onde passou a viver dissolutamente até dissipar seus
bens. Sobrevindo àquele país uma grande fome, o jovem começou a passar
necessidade e foi trabalhar guardando porcos no campo. Ali, desejava
fartar-se da comida dos porcos, mas ninguém lhe dava nada.
Caindo
em si, ele resolveu voltar para casa e pedir perdão ao pai, inclusive
rogando-lhe que o tratasse como um de seus trabalhadores. Já perto de
casa, o pai o avistou e correu ao seu encontro, o abraçou e o beijou.
Bem o filho começou a pedir perdão, o compadecido pai disse aos seus
servos para trazerem depressa a melhor roupa e vesti-lo, colocar-lhe um
anel no dedo e sandálias nos pés; e ainda mandou matar o boi cevado,
oferecendo um grande banquete por causa do seu retorno.
Quando
o filho mais velho voltou do campo, ao ver a festança, chamou um dos
criados e perguntou-lhe a razão daquilo. Ao ser informado que era por
causa do retorno do irmão, ficou transtornado e não quis entrar. O pai,
sabendo da situação, foi ao seu encontro e tentou acalmar o filho
indignado; mas ouviu deste a queixa amarga de que seu longo e submisso
serviço prestado jamais lhe concedera o bônus de um cabrito sequer para
alegrar-se com seus amigos. Por fim, derramou sua mágoa: “Vindo, porém,
esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste
matar para ele o melhor boi”. Então, o pai lhe respondeu: “Meu filho,
tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu”. (Lucas 15)
Agora,
compartilho uma história, que mais parece uma parábola, de um pai
famoso e seu filho miserável. Aos 51 anos de idade, o pintor Paul Emile
Gaugin tinha se unido a sua amante taitiana de 17 anos, sendo Emile o
resultado dessa união. Quando Emile nasceu, Paul Gaugin celebrou o
acontecimento pintando dois quadros: um deles está hoje no Museu
Hermitage, em São Petersburgo; e o outro, pertence à família
Rockefeller.
Entretanto,
Paul Gaugin morreu quando Emile tinha três anos de idade. Emile viveu
uma vida de pobreza, sob a zombaria de seus concidadãos taitianos pelo
tempo que passou nas ruas de Papeete, dormindo e mendigando.
Emile
era pai de 11 filhos, os quais, em sua juventude, muitas vezes o
ajudaram a ganhar algum dinheiro vendendo seus desenhos a turistas como
se fossem Gaugins originais. Porém, Emile jamais chegou a ter o mesmo
talento do pai. Na época de sua morte, aos 80 anos, que passou
praticamente despercebida, apenas um de seus filhos ainda tinha algum
contato com ele. Frequentemente Emile dizia: “Se eu possuísse pelo menos
um dos quadros de meu pai, eu teria sido um homem rico”.
Essas
duas histórias obviamente nada possuem em comum, a não ser por revelar
metaforicamente a realidade espiritual de não poucos filhos de Deus. Há
quem, como Emile, se sinta como pária espiritual, sem participar das
riquezas celestiais do Pai das luzes. A imagem que tem de Deus, como
Pai, não vai além da figura mesquinha de seu próprio pai. Como seu
relacionamento com a realidade espiritual apenas reflete isto, fica
sempre a desejar – deseja ser feliz, receber cura, viver com um
propósito, se dar bem. E como tudo parece distante demais, apenas diz:
“Ah, se eu tivesse!”.
Há
quem se comporte como o filho mais velho da parábola. Tem tudo, mas
nada possui. Tudo está à disposição, mas não se sente parte de nada.
Quando alguém é abençoado, reclama. Se outra pessoa é escolhida para
liderar algum trabalho, sente-se desprestigiada e começa a murmurar. Não
faz nada, mas basta alguém tomar a iniciativa, já coloca obstáculos;
fica enfezada, é do contra. Quando um pobre pecador retorna ao Pai e
recebe o perdão, e com este a alegria e as muitas bênçãos da vida nova,
diz como o filho mais velho: “Estou aqui há tanto tempo e não me deste
nada”.
Muitos
repetem que “Deus é Pai”, mas isso é apenas uma frase com verniz
religioso; não significa que sejam Seus filhos, ou que Deus seja “seu”
Pai. Não se sentem incluídas nas bênçãos do relacionamento com Deus,
tampouco se consideram herdeiras das riquezas celestiais.
O quadro que a Bíblia mostra de Deus como Pai demonstra que Ele não nos
deixa órfãos nem nos abandona, antes, nos ama e quer se relacionar
conosco. Que Deus é Pai, ninguém duvida. Mas o tipo de filho que somos é
demonstrado tanto no nível de relacionamento com o Pai, que nos tem
abençoado com toda sorte de bênção espiritual nos lugares celestiais em
Cristo (Ef 1.3), como também pelo uso que fazemos dessa herança
recebida. Que tipo de filho é você?
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