Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Um
dos tipos mais abjetos de pessoas é aquele que vive como mensageiro dos
defeitos alheios. De certa forma, todos nós já estamos familiarizados
com o desagradável fato de existirem pessoas que não conseguem ver nada
de bom nos outros, a não ser em si mesmas. O que essas pessoas
geralmente não sabem é que a sua atitude de realçar ou proclamar os
defeitos alheios é só mais uma forma de escamotear as deformidades do
próprio caráter. Mas, paradoxalmente, ao mesmo tempo em que mostra o que
há de ruim nos outros, está também a proclamar aos quatro ventos,
embora não se dê conta, a sua própria feiura interior.
A
atitude de olhar o que há de pior nas pessoas obviamente pode ter a sua
fonte de inspiração tanto em nossa humanidade decaída como nas forças
espirituais da maldade. Segundo a Bíblia, Satanás é o maior mestre
inspirador dessa “arte” maligna. A respeito disso, certa vez Jesus disse
a Pedro: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar
como trigo. Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça”
(Lc 22.31).
A
expressão “peneirar como o trigo” identifica metaforicamente o
mensageiro dos defeitos alheios. Isto significa que, ao se peneirar o
trigo, a parte boa caía para ser estocada; e tudo o mais que não
prestava, ficava em cima da peneira para ser descartado. O que Satanás
queria com “peneirar” era mostrar o que havia de pior nos discípulos,
mas especialmente em Pedro, proclamando ao mundo as suas deformidades de
caráter. Jesus sabia que o resultado imediato da arte de “peneirar”
poderia ser a perda da fé em si mesmo e em Deus e, por isso, orou pela
vida do instável Pedro.
Isso
explica porque não poucas pessoas têm sucumbido, em algum ponto da sua
trajetória de vida, como resultado dessa atitude perniciosa. “Peneirar”,
nas nossas relações sociais, tem o sentido de alardear os defeitos
alheios e, por isso mesmo, deve ser sistematicamente evitado, pois não
serve em nada para melhorar a vida dos outros, nem mesmo a nossa.
A
verdade é que essa é uma maneira equivocada de ver e viver a vida. O
modo como alguém vê a vida determina a sua reação na história — em
relação a si mesmo, aos outros e também diante do mundo. O nosso
“brilho” ou sucesso como pessoa, assim como o reconhecimento do sucesso
dos outros, segundo Jesus, tem a ver basicamente com a nossa maneira de
enxergar a vida. Jesus deixou isso extremamente claro, quando disse:
“São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o
teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu
corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que há em ti sejam trevas,
que grandes trevas serão!” (Mt 6.22,23).
Entendo
que Jesus está ensinando, em suma, que devemos ver o melhor de nós
próprios primeiro, para podermos ver também o melhor das pessoas e do
mundo ao nosso redor. Em contrapartida, não devemos nos deter em olhar o
que é mau no mundo, nem nos fixarmos nas deformações ou nas
animalidades do caráter dos outros, nem nos atermos ao lado ruim de nós
mesmos.
Quando
alguém só consegue enxergar a parte ruim das pessoas e das coisas, esse
comportamento gera “trevas” profundas na sua vida. Ao olharmos o que há
de bom em nós mesmos, quando então podemos potencializar isso em ações
concretas na vida, essa será a força que nos fará brilhar como pessoas
(“todo o corpo será luminoso”). Da mesma forma, quando olhamos o que há
de bom nos outros, e não nos detemos a enxergar os seus defeitos, e a
partir desses pressupostos embasamos as nossas relações sociais, então o
resultado mais imediato é o cintilar do nosso brilho diante de todos.
Além disso, permitimos que as outras pessoas também brilhem.
Há
uma lei geral que muitos conhecem, mas poucos procuram segui-la, ao
lidarem com relacionamentos interpessoais. É a lei da semeadura e da
colheita, aplicável a qualquer situação da vida; ou seja, colhemos o que
plantamos. Se plantarmos um tipo de semente, colheremos o fruto
correspondente a essa semente, não outra coisa. Se plantarmos milho,
colheremos milho; se feijão, feijão etc.
Do
mesmo modo, se plantarmos “olhar as pessoas com bons olhos”, colheremos
“ser olhados com bons olhos”. Jesus ensinou que não devemos fazer
juízos precipitados a respeito dos outros, pois isso traria uma colheita
semelhante, quando enunciou a lei da equivalência: “Com o critério com
que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido,
vos medirão também” (Mt 7.2).
Quando
percebemos que nada se ganha em alardear os próprios defeitos, e também
que muito se perde em ser mensageiro dos defeitos alheios, é possível
entender que custa muito pouco ajudar a melhorar a vida ao nosso redor.
Sendo assim, lute para ser sempre um mensageiro de coisas boas.