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sexta-feira, 24 de maio de 2013

Mensageiros dos defeitos alheios

  
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
 
  
Um dos tipos mais abjetos de pessoas é aquele que vive como mensageiro dos defeitos alheios. De certa forma, todos nós já estamos familiarizados com o desagradável fato de existirem pessoas que não conseguem ver nada de bom nos outros, a não ser em si mesmas. O que essas pessoas geralmente não sabem é que a sua atitude de realçar ou proclamar os defeitos alheios é só mais uma forma de escamotear as deformidades do próprio caráter. Mas, paradoxalmente, ao mesmo tempo em que mostra o que há de ruim nos outros, está também a proclamar aos quatro ventos, embora não se dê conta, a sua própria feiura interior.
A atitude de olhar o que há de pior nas pessoas obviamente pode ter a sua fonte de inspiração tanto em nossa humanidade decaída como nas forças espirituais da maldade. Segundo a Bíblia, Satanás é o maior mestre inspirador dessa “arte” maligna. A respeito disso, certa vez Jesus disse a Pedro: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo. Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça” (Lc 22.31).
A expressão “peneirar como o trigo” identifica metaforicamente o mensageiro dos defeitos alheios. Isto significa que, ao se peneirar o trigo, a parte boa caía para ser estocada; e tudo o mais que não prestava, ficava em cima da peneira para ser descartado. O que Satanás queria com “peneirar” era mostrar o que havia de pior nos discípulos, mas especialmente em Pedro, proclamando ao mundo as suas deformidades de caráter. Jesus sabia que o resultado imediato da arte de “peneirar” poderia ser a perda da fé em si mesmo e em Deus e, por isso, orou pela vida do instável Pedro.
Isso explica porque não poucas pessoas têm sucumbido, em algum ponto da sua trajetória de vida, como resultado dessa atitude perniciosa. “Peneirar”, nas nossas relações sociais, tem o sentido de alardear os defeitos alheios e, por isso mesmo, deve ser sistematicamente evitado, pois não serve em nada para melhorar a vida dos outros, nem mesmo a nossa.
A verdade é que essa é uma maneira equivocada de ver e viver a vida. O modo como alguém vê a vida determina a sua reação na história — em relação a si mesmo, aos outros e também diante do mundo. O nosso “brilho” ou sucesso como pessoa, assim como o reconhecimento do sucesso dos outros, segundo Jesus, tem a ver basicamente com a nossa maneira de enxergar a vida. Jesus deixou isso extremamente claro, quando disse: “São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que há em ti sejam trevas, que grandes trevas serão!” (Mt 6.22,23).
Entendo que Jesus está ensinando, em suma, que devemos ver o melhor de nós próprios primeiro, para podermos ver também o melhor das pessoas e do mundo ao nosso redor. Em contrapartida, não devemos nos deter em olhar o que é mau no mundo, nem nos fixarmos nas deformações ou nas animalidades do caráter dos outros, nem nos atermos ao lado ruim de nós mesmos.
Quando alguém só consegue enxergar a parte ruim das pessoas e das coisas, esse comportamento gera “trevas” profundas na sua vida. Ao olharmos o que há de bom em nós mesmos, quando então podemos potencializar isso em ações concretas na vida, essa será a força que nos fará brilhar como pessoas (“todo o corpo será luminoso”). Da mesma forma, quando olhamos o que há de bom nos outros, e não nos detemos a enxergar os seus defeitos, e a partir desses pressupostos embasamos as nossas relações sociais, então o resultado mais imediato é o cintilar do nosso brilho diante de todos. Além disso, permitimos que as outras pessoas também brilhem.
Há uma lei geral que muitos conhecem, mas poucos procuram segui-la, ao lidarem com relacionamentos interpessoais. É a lei da semeadura e da colheita, aplicável a qualquer situação da vida; ou seja, colhemos o que plantamos. Se plantarmos um tipo de semente, colheremos o fruto correspondente a essa semente, não outra coisa. Se plantarmos milho, colheremos milho; se feijão, feijão etc.
Do mesmo modo, se plantarmos “olhar as pessoas com bons olhos”, colheremos “ser olhados com bons olhos”. Jesus ensinou que não devemos fazer juízos precipitados a respeito dos outros, pois isso traria uma colheita semelhante, quando enunciou a lei da equivalência: “Com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também” (Mt 7.2).
Quando percebemos que nada se ganha em alardear os próprios defeitos, e também que muito se perde em ser mensageiro dos defeitos alheios, é possível entender que custa muito pouco ajudar a melhorar a vida ao nosso redor. Sendo assim, lute para ser sempre um mensageiro de coisas boas.
 
 
 
 
 

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Honra e respeito às Mães

   
 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
 
  
Quando Deus desejou dar-nos uma ideia da dimensão incondicional de Seu amor, que comparação Ele poderia usar sem ficar devendo explicações adicionais? É claro, se você pensou que Ele só poderia usar a comparação do amor de mãe, então acertou. Deus disse certa feita: “Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti” (Is 49.15). Nada mais simples: o próprio Deus nos ama como uma mãe; e as mães, e somente elas, amam como se fossem deusas.
A palavra mãe, pela extensão de sua natureza e propósito, pode ser usada como sinônima de muitas outras. Ser mãe é educar, é preparar para a vida, é cuidar, é dar segurança, conforto, afeto. Há palavras que andam sempre juntas do sagrado ofício de ser mãe: sacrifício, dedicação, cuidado, abnegação, renúncia, coragem, amor. E quanto há, nesse bendito sacerdócio, um tanto considerável de todas elas! É isso que faz com que muitas mães deixem de lado o seu próprio futuro, tão somente para dar uma oportunidade de preparo mais adequado aos filhos para enfrentarem a vida. Muitas enterram os seus sonhos. Outras, só muito mais tarde, quando os filhos partem do “ninho”, quando então o peso da idade já não ajuda, é que procuram, numa nova atividade, dar um pouco de sentido ao resto de seus dias.
A Bíblia ensina: “Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra” (Rm 13.7). Desse modo, especialmente no “Dia das Mães”, todos os filhos têm uma oportunidade a mais para pensarem sobre o respeito e a honra devidas às suas mães.
É claro, não somente nesse dia específico e solitário, mas em todo o tempo, durante toda a vida. Porque mãe é para sempre, não temos uma ex-mãe, mesmo que já tenha partido. É singularmente verdadeiro o ditado popular: “Mãe é uma só”. Isso nos lembra de uma coisa: temos de cuidar da nossa mãe como se fosse uma flor rara e única de inestimável valor.
O amor de uma mãe pode ser mostrado de variadas formas, os filhos o sabem muito bem. Pode ser o silêncio, quando suas palavras poderiam magoar. Pode ser a paciência, quando alguém lhe é brusco. Pode ser a surdez, quando rebenta um escândalo. Pode ser a consideração, quando os outros são atingidos pelo infortúnio. Pode ser a prontidão, quando o dever a chama. Mas será sempre o coração, quando a fatalidade aos filhos visita.
Todo filho ou filha tem o sagrado dever de honrar e respeitar sua mãe, tributando a ela a gratidão por todos os seus abençoados feitos de criá-los e educá-los para vida. E isso principalmente enquanto ela vive. Portanto, faça-a saber do seu amor e gratidão por tudo aquilo que fez por você. Um presente, um simples gesto, uma palavra de agradecimento, uma canção. Uma mãe merece tudo isso e muito mais, especialmente se vier do âmago da alma, do mais profundo do coração.
Para os que já perderam suas mamães, a gratidão está circunscrita à dimensão de suas próprias memórias, talvez em lembrar-se de coisas singelas, tais como: a segurança de ter estado no colo da mãe; um abraço após uma queda; um beijo depois de medicar uma ferida; o silêncio em vez da merecida bronca; o aconchego na hora do medo do escuro; o disfarçado toque de “conte comigo” ao lhe deixar na escola; o modo único de dizer num simples olhar: “Estarei sempre aqui”. 
 Aqui gostaria de evocar a imagem de minha querida mãe Therezinha, a Neguinha, que partiu há cinco anos para estar com o Senhor Jesus, a quem amava de todo o coração. Ela sempre tinha algo de novo, mesmo que isso significasse apenas expressar novas formas da sua abnegada dedicação em amor aos seus filhos e filhas.
Mamãe sabia que nós não paramos de lutar porque ficamos velhos; tornamo-nos velhos porque paramos de lutar. Ela sabia que é preciso rir e encontrar humor em cada dia. A Neguinha tinha sempre uma pitada de bom humor, mesmo nos tempos de lutas; e era o bom humor que ditava o curso de sua vida.
Mamãe entendia que é preciso ter a vida acalentada por um sonho. Um de seus maiores sonhos foi educar seus filhos para servirem a Deus na Sua obra, e ela o viu realizado. Minha Neguinha não ficava a remoer remorsos, nem tinha medo da morte. Mas, antes, perdoava sempre; entregava as suas culpas a Deus, pois cria que Jesus nos purifica de todo o pecado. A despeito das lutas, ela seguia sempre em frente na força que Deus supria.
Se a minha querida mãe estivesse aqui, a sua mensagem às mães seria esta: “Esforce-se por ser uma mãe que agrada a Deus, nunca desista dos seus sonhos, jamais deixe de tentar, siga em frente”.
Deus abençoe as mães!
 
 
 
 
 

sábado, 11 de maio de 2013

Quando Fé e Simplicidade andam juntas

 
 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
 
  
 
Em um mundo onde as pessoas são julgadas pela habilidade com que fazem as coisas e pelo sucesso que alcançam, não é difícil confundir conceitos, especialmente fé com pensamento positivo, revelação de Deus com princípios de marketing de resultados, sorte com bênção, humildade com fraqueza, coragem com empáfia, simplicidade com timidez. Confunde-se principalmente as noções de fé e simplicidade como coisas excludentes.
       De modo geral, porém, quando observamos a história da Igreja e dos homens de Deus, vê-se claramente a acentuada evidência do binômio fé e simplicidade. Os ensinamentos dos profetas, de Jesus e dos apóstolos, muitas vezes, apresentam essa marca indelével, algo que nem o tempo ou os maus exemplos podem apagar. Isto porque a mais legítima fé não é um elemento da vida espiritual que prime pela sofisticação, de modo que não possa ser alcançada pelas crianças, nem tampouco pelo simplismo, que não deva ser recebida pelos doutos e letrados. Na verdade, o caminho da fé em Deus é tão sublime e, ao mesmo tempo, tão simples que “nem mesmo os loucos errarão o caminho” (Is 35.8).
Infelizmente, a simplicidade devida à fé tem sido um elemento relegado a um plano inferior  —  quando não totalmente esquecida  —  na pregação em não poucos púlpitos hoje. Quando vemos pregadores apresentando uma mensagem que prima pela sofisticação mercadológica, cujo cerne está centrado no sucesso pessoal e não na obediência a Deus; quando ouvimos mensagens que miram exclusivamente na necessidade de se fazer alguma coisa para receber bênçãos do Céu, numa acentuada negação da graça (favor imerecido) da parte de Deus; quando se percebe que a vida cristã autêntica está tendo o seu valor questionado pela prática de um “outro evangelho” que busca a performance e o lucro; sim, tudo isso nos mostra quão distante para muitos estão os princípios de fé e de simplicidade, desconhecendo que tais conceitos não somente andam conjuntamente mas também se locupletam.
       Num mundo voltado para o sucesso a todo custo, perde-se a noção de que no topo estão apenas uns poucos privilegiados que, numa mistura esperta de talento, trabalho árduo e boa sorte, conseguem a fama e o poder que ali se encontram. Esquece-se também que a pessoa que chega ao pico raramente é feliz por muito tempo, pois é logo devorada pelos temores de que pode escorregar e dar seu lugar a outro.
       A busca de sucesso e felicidade é inerente ao propósito para o qual fomos criados, mas foi desvirtuada pelo pecado. Tanto que Jesus, em suas cartas aos pastores das sete Igrejas da Ásia, faz gloriosas promessas “ao vencedor”, jamais ao perdedor (Ap 2 e 3). Fomos feitos para a vitória, mas a vitória da fé simples, não da esperteza sofisticada. Fomos destinados ao sucesso, cujo cerne é a obediência a Deus, não a sagacidade tenaz de levar vantagem a qualquer custo.
A essência e a simplicidade da fé cristã nos mostram uma filosofia espiritual inteiramente diferente e mais elevada do que aquela que motiva o mundo e alguns equivocados líderes religiosos atuais. De acordo com os ensinamentos de Jesus, os primeiros serão os últimos, e os últimos, primeiros; os humildes de espírito são bem-aventurados; os mansos herdarão a terra; os exaltados serão humilhados, e os humilhados, exaltados; o maior é aquele que serve, não o que é servido; aquele que vier a perder tudo por causa de sua fé é o único que, por fim, possuirá tudo; os que colocam sua confiança na riqueza são devorados pela preocupação e suas riquezas são corroídas pelas traças e ferrugens das incertezas do mercado.
Para Jesus, o segredo da vida plena está em amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo, não em ter coisas e conseguir sucesso. A obediência a Deus é mais bem apreciada do que fazer sacrifícios religiosos. Para herdar o reino de Deus, é necessário ter a simplicidade da mente de uma criança, não a pretensa sofisticação intelectual dos adultos.
       Fé e simplicidade andam sempre juntas. Para a pessoa de fé, o primeiro desejo não é ser feliz, é ser obediente e santo. A sua espiritualidade consiste em honrar a Deus com a sua vida, mesmo que isso signifique alguma perda. A sua visão não está centrada em coisas de valores efêmeros, mas no ponto de vista de Deus. Seu maior tesouro não é ter reconhecimento humano, mas a aprovação de Cristo.
Quem vive a genuína fé com a simplicidade do Evangelho pode obedecer a Deus e carregar a sua cruz a cada dia, a despeito das tribulações e incompreensões que isso possa acarretar. Só assim descobre que a pessoa de Deus é deveras encantadora, e servi-lo, algo de indescritível prazer.
Viva a sua fé com simplicidade. Isso tornará a sua comunhão com Deus mais deleitável que qualquer outro prazer. Quando a simplicidade de sua fé se apoia tão somente no caráter de um Deus Santo que não pode mentir, o seu coração sabe que Nele você pode verdadeiramente confiar!
 
 
 
 
 

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