Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Em
um mundo onde as pessoas são julgadas pela habilidade com que fazem as
coisas e pelo sucesso que alcançam, não é difícil confundir conceitos,
especialmente fé com pensamento positivo, revelação de Deus com
princípios de marketing de resultados, sorte com bênção, humildade com
fraqueza, coragem com empáfia, simplicidade com timidez. Confunde-se
principalmente as noções de fé e simplicidade como coisas excludentes.
De modo geral, porém, quando observamos a história da Igreja e dos
homens de Deus, vê-se claramente a acentuada evidência do binômio fé e
simplicidade. Os ensinamentos dos profetas, de Jesus e dos apóstolos,
muitas vezes, apresentam essa marca indelével, algo que nem o tempo ou
os maus exemplos podem apagar. Isto porque a mais legítima fé não é um
elemento da vida espiritual que prime pela sofisticação, de modo que não
possa ser alcançada pelas crianças, nem tampouco pelo simplismo, que
não deva ser recebida pelos doutos e letrados. Na verdade, o caminho da
fé em Deus é tão sublime e, ao mesmo tempo, tão simples que “nem mesmo
os loucos errarão o caminho” (Is 35.8).
Infelizmente,
a simplicidade devida à fé tem sido um elemento relegado a um plano
inferior — quando não totalmente esquecida — na pregação em não
poucos púlpitos hoje. Quando vemos pregadores apresentando uma mensagem
que prima pela sofisticação mercadológica, cujo cerne está centrado no
sucesso pessoal e não na obediência a Deus; quando ouvimos mensagens que
miram exclusivamente na necessidade de se fazer alguma coisa para
receber bênçãos do Céu, numa acentuada negação da graça (favor
imerecido) da parte de Deus; quando se percebe que a vida cristã
autêntica está tendo o seu valor questionado pela prática de um “outro
evangelho” que busca a performance e o lucro; sim, tudo isso nos mostra
quão distante para muitos estão os princípios de fé e de simplicidade,
desconhecendo que tais conceitos não somente andam conjuntamente mas
também se locupletam.
Num mundo voltado para o sucesso a todo custo, perde-se a noção de que
no topo estão apenas uns poucos privilegiados que, numa mistura esperta
de talento, trabalho árduo e boa sorte, conseguem a fama e o poder que
ali se encontram. Esquece-se também que a pessoa que chega ao pico
raramente é feliz por muito tempo, pois é logo devorada pelos temores de
que pode escorregar e dar seu lugar a outro.
A busca de sucesso e felicidade é inerente ao propósito para o qual
fomos criados, mas foi desvirtuada pelo pecado. Tanto que Jesus, em suas
cartas aos pastores das sete Igrejas da Ásia, faz gloriosas promessas
“ao vencedor”, jamais ao perdedor (Ap 2 e 3). Fomos feitos para a
vitória, mas a vitória da fé simples, não da esperteza sofisticada.
Fomos destinados ao sucesso, cujo cerne é a obediência a Deus, não a
sagacidade tenaz de levar vantagem a qualquer custo.
A
essência e a simplicidade da fé cristã nos mostram uma filosofia
espiritual inteiramente diferente e mais elevada do que aquela que
motiva o mundo e alguns equivocados líderes religiosos atuais. De acordo
com os ensinamentos de Jesus, os primeiros serão os últimos, e os
últimos, primeiros; os humildes de espírito são bem-aventurados; os
mansos herdarão a terra; os exaltados serão humilhados, e os humilhados,
exaltados; o maior é aquele que serve, não o que é servido; aquele que
vier a perder tudo por causa de sua fé é o único que, por fim, possuirá
tudo; os que colocam sua confiança na riqueza são devorados pela
preocupação e suas riquezas são corroídas pelas traças e ferrugens das
incertezas do mercado.
Para
Jesus, o segredo da vida plena está em amar a Deus de todo o coração e
ao próximo como a si mesmo, não em ter coisas e conseguir sucesso. A
obediência a Deus é mais bem apreciada do que fazer sacrifícios
religiosos. Para herdar o reino de Deus, é necessário ter a simplicidade
da mente de uma criança, não a pretensa sofisticação intelectual dos
adultos.
Fé e simplicidade andam sempre juntas. Para a pessoa de fé, o primeiro
desejo não é ser feliz, é ser obediente e santo. A sua espiritualidade
consiste em honrar a Deus com a sua vida, mesmo que isso signifique
alguma perda. A sua visão não está centrada em coisas de valores
efêmeros, mas no ponto de vista de Deus. Seu maior tesouro não é ter
reconhecimento humano, mas a aprovação de Cristo.
Quem
vive a genuína fé com a simplicidade do Evangelho pode obedecer a Deus e
carregar a sua cruz a cada dia, a despeito das tribulações e
incompreensões que isso possa acarretar. Só assim descobre que a pessoa
de Deus é deveras encantadora, e servi-lo, algo de indescritível prazer.
Viva
a sua fé com simplicidade. Isso tornará a sua comunhão com Deus mais
deleitável que qualquer outro prazer. Quando a simplicidade de sua fé se
apoia tão somente no caráter de um Deus Santo que não pode mentir, o
seu coração sabe que Nele você pode verdadeiramente confiar!
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