O
Homem da Música, comédia musical de Robert Meredith Wilson, première
com sucesso na Broadway, e depois transformada em filme, é conhecida por
seus ritmos memoráveis e cadenciados, mas também pelos momentos de
profunda percepção dos intricados caminhos da vida. Numa cena, o
professor Harold Hill, um notável vigarista, procura expressar um
genuíno amor pela bibliotecária Marian. Mas a moça está sempre voltada
para o futuro incerto, não se atendo a viver plenamente o momento
presente. Então Hill lhe fala: “Quem empilha um monte de amanhãs, depois
só encontrará um monte de ontem vazios”.
Decerto
o professor Harold Hill podia e sabia como ser inescrupuloso, mas
também entendia a importância de viver o presente com todas as suas
nuances e perspectivas, com seus problemas e possibilidades de erros e
acertos na vida. Ele sabia que era preciso viver a vida como ela se
apresentava, não cabendo ficar preso às certezas inglórias do passado,
por mais duras que sejam, nem tampouco quedar-se paralisado diante das
incertezas do futuro, por mais assustadoras que pareçam.
No
conhecido Sermão do Monte, Jesus apresentou uma simples e poderosa
mensagem sobre como não se deixar vencer pela preocupação com os
problemas da vida. Ele disse: “Não vos inquieteis com o dia de amanhã,
pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal”
(Mt 6.34).
E
por que Jesus fez essa advertência? Entre as razões possíveis, posso
destacar duas. Por um lado, se conhecêssemos todas as coisas boas que
acontecerão amanhã, estaríamos tão empolgados hoje como desapontados
amanhã. E por outro lado, se soubéssemos todas as coisas ruins do nosso
futuro, sentimentos profundos como preocupação, medo e tristeza nos
paralisariam hoje.
O
escritor e historiador Edward Everett Hale disse: “Nunca leve mais de
um tipo de problema ao mesmo tempo. Algumas pessoas carregam três tipos:
todos os que já tiveram, todos os que têm agora, e todos os que esperam
ter”.
Todas as pessoas têm algo em comum: problemas! Não devemos ficar
surpresos com isso, mas sim entender que os problemas fazem parte da
vida. O fato é que nós conhecemos os problemas de forma íntima e
pessoal: perseguições, dívidas, falta de dinheiro, saúde debilitada,
conflitos conjugais, tristeza, depressão, desemprego, morte de uma
pessoa amada etc.
Alguns mestres “modernos” tentam empanar essa visão da vida criando
“teologias” que procuram banir definitivamente os problemas, como se os
mesmos fossem uma maldição. Mas não são. Decerto, os problemas não são
necessariamente bons ou maus. Eles são meramente problemas. Eles estão
aí e teremos, cedo ou tarde, de enfrentá-los. E é neste ponto de
enfrentamento que é decidido se os resultados serão bons ou maus.
Portanto, não devemos nos surpreender que Deus nos permita passar por
alguns problemas (1 Pe 4.12). Os problemas podem, inclusive, revelar a
verdadeira fibra moral da nossa alma e mostrar o nosso real valor na
vida.
Uma das grandes lições que os esportes fornecem para a vida é
exatamente essa: é preciso enfrentar os obstáculos e vencê-los. Eles
fazem parte do jogo. Imagine um esporte sem desafios ou a vida sem
problemas.
Oliver
Wendell Holmes disse: “Se eu tivesse uma fórmula para evitar problemas,
não a divulgaria. Se o fizesse, não estaria fazendo o bem para ninguém.
Os problemas criam a capacidade de lidar com eles. Por isso, encare-os
como um amigo, pois verá muitos deles e é melhor ter um bom
relacionamento com eles”.
Antes da tecnologia digital, para se revelar fotos, o filme tinha de
ser levado primeiro a uma câmara escura. Só depois que os produtos
químicos faziam o seu trabalho no escuro é que era possível expor os
negativos à luz, e assim produzir a foto acabada. A luz que teria
destruído o filme antes, agora revela a sua beleza. Passar por problemas
na vida, portanto, é como passar na “câmara escura”.
Se,
como cristãos, passamos por experiências difíceis, essa é uma excelente
oportunidade para Deus trabalhar a nossa vida espiritual. Ao
enfrentarmos dificuldades, tristezas, decepções e frustrações, é na
“câmara escura de Deus” que a imagem de Cristo é revelada em nós. Só
então estaremos prontos para ser exibidos na luz da vida. O profeta
Jeremias, sabendo disso, afirmou: “Ele me colocou em lugares escuros... É
bom confiar e esperar silenciosamente pela salvação do Senhor” (Lm
3.6,26).
Portanto,
não centralize a sua atenção em culpar pessoas ou circunstâncias por
causa dos vales escuros de frustração e desespero pelos quais esteja
passando. Embora eles possam ser a causa secundária, coloque o seu foco
na ação de Deus em sua vida e aprenda a reconhecer os benefícios das
momentâneas escuridões.
Não se desespere por causa dos problemas, antes os enfrente
resolutamente. Fugir dos problemas é como se expor à luz cedo demais e
estragar o filme. Espere a hora de Deus, não estrague a impressão do Seu
amor no filme da sua vida. Portanto, deixe o Senhor trabalhar a beleza
da semelhança de Cristo dentro de você para poder exibi-la na galeria
dos heróis da fé, aqui e na eternidade.
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
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