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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Podemos aprender com os problemas

 
 
 
 
O Homem da Música, comédia musical de Robert Meredith Wilson, première com sucesso na Broadway, e depois transformada em filme, é conhecida por seus ritmos memoráveis e cadenciados, mas também pelos momentos de profunda percepção dos intricados caminhos da vida. Numa cena, o professor Harold Hill, um notável vigarista, procura expressar um genuíno amor pela bibliotecária Marian. Mas a moça está sempre voltada para o futuro incerto, não se atendo a viver plenamente o momento presente. Então Hill lhe fala: “Quem empilha um monte de amanhãs, depois só encontrará um monte de ontem vazios”.
Decerto o professor Harold Hill podia e sabia como ser inescrupuloso, mas também entendia a importância de viver o presente com todas as suas nuances e perspectivas, com seus problemas e possibilidades de erros e acertos na vida. Ele sabia que era preciso viver a vida como ela se apresentava, não cabendo ficar preso às certezas inglórias do passado, por mais duras que sejam, nem tampouco quedar-se paralisado diante das incertezas do futuro, por mais assustadoras que pareçam.
No conhecido Sermão do Monte, Jesus apresentou uma simples e poderosa mensagem sobre como não se deixar vencer pela preocupação com os problemas da vida. Ele disse: “Não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal” (Mt 6.34).
E por que Jesus fez essa advertência? Entre as razões possíveis, posso destacar duas. Por um lado, se conhecêssemos todas as coisas boas que acontecerão amanhã, estaríamos tão empolgados hoje como desapontados amanhã. E por outro lado, se soubéssemos todas as coisas ruins do nosso futuro, sentimentos profundos como preocupação, medo e tristeza nos paralisariam hoje.
O escritor e historiador Edward Everett Hale disse: “Nunca leve mais de um tipo de problema ao mesmo tempo. Algumas pessoas carregam três tipos: todos os que já tiveram, todos os que têm agora, e todos os que esperam ter”.
       Todas as pessoas têm algo em comum: problemas! Não devemos ficar surpresos com isso, mas sim entender que os problemas fazem parte da vida. O fato é que nós conhecemos os problemas de forma íntima e pessoal: perseguições, dívidas, falta de dinheiro, saúde debilitada, conflitos conjugais, tristeza, depressão, desemprego, morte de uma pessoa amada etc.
       Alguns mestres “modernos” tentam empanar essa visão da vida criando “teologias” que procuram banir definitivamente os problemas, como se os mesmos fossem uma maldição. Mas não são. Decerto, os problemas não são necessariamente bons ou maus. Eles são meramente problemas. Eles estão aí e teremos, cedo ou tarde, de enfrentá-los. E é neste ponto de enfrentamento que é decidido se os resultados serão bons ou maus.
       Portanto, não devemos nos surpreender que Deus nos permita passar por alguns problemas (1 Pe 4.12). Os problemas podem, inclusive, revelar a verdadeira fibra moral da nossa alma e mostrar o nosso real valor na vida.
       Uma das grandes lições que os esportes fornecem para a vida é exatamente essa: é preciso enfrentar os obstáculos e vencê-los. Eles fazem parte do jogo. Imagine um esporte sem desafios ou a vida sem problemas.
Oliver Wendell Holmes disse: “Se eu tivesse uma fórmula para evitar problemas, não a divulgaria. Se o fizesse, não estaria fazendo o bem para ninguém. Os problemas criam a capacidade de lidar com eles. Por isso, encare-os como um amigo, pois verá muitos deles e é melhor ter um bom relacionamento com eles”.
       Antes da tecnologia digital, para se revelar fotos, o filme tinha de ser levado primeiro a uma câmara escura. Só depois que os produtos químicos faziam o seu trabalho no escuro é que era possível expor os negativos à luz, e assim produzir a foto acabada. A luz que teria destruído o filme antes, agora revela a sua beleza. Passar por problemas na vida, portanto, é como passar na “câmara escura”.
Se, como cristãos, passamos por experiências difíceis, essa é uma excelente oportunidade para Deus trabalhar a nossa vida espiritual. Ao enfrentarmos dificuldades, tristezas, decepções e frustrações, é na “câmara escura de Deus” que a imagem de Cristo é revelada em nós. Só então estaremos prontos para ser exibidos na luz da vida. O profeta Jeremias, sabendo disso, afirmou: “Ele me colocou em lugares escuros... É bom confiar e esperar silenciosamente pela salvação do Senhor” (Lm 3.6,26).
Portanto, não centralize a sua atenção em culpar pessoas ou circunstâncias por causa dos vales escuros de frustração e desespero pelos quais esteja passando. Embora eles possam ser a causa secundária, coloque o seu foco na ação de Deus em sua vida e aprenda a reconhecer os benefícios das momentâneas escuridões.
       Não se desespere por causa dos problemas, antes os enfrente resolutamente. Fugir dos problemas é como se expor à luz cedo demais e estragar o filme. Espere a hora de Deus, não estrague a impressão do Seu amor no filme da sua vida. Portanto, deixe o Senhor trabalhar a beleza da semelhança de Cristo dentro de você para poder exibi-la na galeria dos heróis da fé, aqui e na eternidade.
 
 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém

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