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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Culpa e Graça


  
 
Karl Menninger em seu livro “What Ever Became of Sin (em Português, algo como “De que é feito o pecado”), narra uma estranha cena, ocorrida em um dia ensolarado de setembro de 1972, na esquina de uma agitada rua de Chicago, nos Estados Unidos. Um homem bem vestido e de feições severas postou-se parado na esquina, enquanto os pedestres corriam de um lado para outro em seus afazeres. Então, ele solenemente levantava o seu braço direito, apontava para a pessoa que lhe estava mais próxima e, em voz alta, pronunciava uma única palavra: “Culpado!” – se fosse um homem; e sendo mulher, bradava: “Culpada!”
Sem nenhuma outra expressão e sem sequer alterar o seu semblante, ele então voltava à posição inicial para, minutos depois, repetir o mesmo gesto. A cena era grotesca. O homem parecia um daqueles loucos que aparecem de vez em quando, em qualquer lugar do mundo, com suas bizarrices. Mas, temos de admitir, ele era um louco dizendo a verdade.
O seu gesto causava um efeito quase assustador nos transeuntes. Estes ficavam olhando para o “acusador”, hesitavam momentaneamente, viravam-se, olhavam para ele novamente, para então seguirem o seu caminho.
De fato e sem sombra de dúvida, todos aqueles para quem ele apontou eram realmente culpados. Isto porque o pecado é universal, uma vez que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23).
Quando Marilyn Laszlo estava traduzindo a Bíblia para o povo Hauna, da Nova Guiné, ela chegou à palavra “pecado”, e então perguntou ao próprio povo o que eles pensavam que isto significava. Eles responderam: “É quando se mente”; “é quando alguém rouba”; “é quando matamos”; “é quando alguém toma a mulher do outro”. Sem jamais terem lido a Bíblia, eles estavam falando sobre o padrão de Deus conforme mostrado nos Dez Mandamentos. Isto porque eles “mostram a norma da lei (de Deus) gravada no seu coração” (Rm 2.15).
O problema é que essa mesma lei, em vez de nos ajudar, apenas serve para mostrar que todos somos pecadores e, portanto, fomos escravizados pelo pecado. Como Jesus asseverou: “Todo o que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34).
Mesmo que alguém se ache um pecador de pequena monta, ainda assim, como dizia o doidinho na esquina, é culpado. E se alguém disse que não tem pecado, mesmo assim é culpado. Está escrito: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” (1Jo 1.8). Alguém disse que a pior forma de insanidade é negar a culpa de alguém que vive no pecado e na descrença.
Foi para nos libertar do pecado e de todas as suas mazelas que Jesus veio ao mundo. Foi por amor que Ele morreu na cruz, para pagar a pena por nossos pecados, como está escrito: “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos” (Is 53.6).
A morte reconciliadora de Jesus é uma verdade tão profunda que os estudiosos foram incapazes de analisá-la completamente. Mas como entender um gesto de amor supremo do próprio Filho de Deus, que era inocente e justo, ter morrido para pagar a pena por nossos pecados?!
Foi uma substituição: um homem inocente e justo carregou os pecados de toda a humanidade, pagando o seu preço. Foi assim que “a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tt 2.11).
Mas como entender minimamente esse mistério?
O músico e pastor Cliff Barrows conta que certa feita seus filhos Bobby e Betty fizeram algo errado. Embora tenham sido gentilmente repreendidos, tornaram a fazer a mesma coisa e precisaram ser disciplinados. O coração de pai amoroso de Cliff doeu ao pensar que teria de punir aqueles pequeninos que tanto amava.
Assim, chamou os dois em seu quarto, tirou o cinto e a camisa, e então, com as costas nuas, ajoelhou-se ao lado da cama. Ele falou para cada filho bater-lhe dez vezes com o cinto, porque ele próprio, em vez de puni-los merecidamente, iria tomar o lugar deles no castigo. Ah, como eles choraram! Mas a pena precisava ser paga. As crianças soluçavam enquanto batiam nas costas do próprio pai. Depois disso Cliff os tomou num apertado abraço, beijou-os e então eles oraram juntos. “Doeu” – ele recorda – “mas nunca mais precisei bater neles”.
Jesus foi chicoteado por todos nós, relativamente falando. Ele tomou sobre Si todos os nossos pecados e carregou todas as nossas culpas, realizando uma plena e eterna salvação. Isso é graça de Deus! Tudo o que precisamos fazer agora é aceitar o Seu sacrifício e receber o Seu perdão. Isso é fé em Deus! E assim, seremos Seus filhos, e o Seu amor inundará o nosso coração de uma paz que excede todo o entendimento (Fp 4.7). Isso é comunhão com Deus!
Depois disso, num gesto recíproco de amor, poderemos devotar a Deus o restante de nossas vidas, pois a culpa não é mais nossa; Jesus a carregou definitivamente, deu cabo dela, extinguindo-a totalmente. Agora é só graça!
 
 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém


Publicação:
D.T.C.



domingo, 8 de fevereiro de 2015

O valor da disciplina espiritual





Oscar Schmidt, reconhecidamente o maior cestinha de todos os tempos, foi um jogador de basquete extremamente disciplinado. Quando começaram a chamá-lo de “mão santa”, por causa das espetaculares cestas que marcava em cada partida, ele prontamente contestou: “Mão santa, coisa nenhuma; eu treino muito para ser preciso nos arremessos. Depois de cada treino com a equipe, para me aprimorar ainda mais, eu fico na quadra e pratico cerca de mil arremessos”. Isso é disciplina esportiva!
O grande pianista Ignacy Paderewski, músico por vocação e profissão, falando sobre a necessidade de praticar diariamente, disse: “Se eu não praticasse tocar piano por um dia apenas, ao tocar pra valer, eu notaria a diferença. Se eu perdesse dois dias, os críticos notariam a diferença. Se eu ficasse uma semana inteira sem praticar, o público notaria a diferença”. Isso é disciplina profissional!
O apóstolo Paulo, comparando a vida disciplinada de um atleta (que buscava reconhecimento humano) com a dele como seguidor de Jesus (que buscava a aprovação de Deus), afirmou categoricamente: “Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado” (1Co 9.25-27). Isso é disciplina espiritual!
A lição que fica desses exemplos é que não devemos ser inconstantes em nossa disciplina, qualquer que seja a nossa área de atividade. Mas, principalmente em termos espirituais, se queremos que a nossa vida seja um testemunho vivo atraente para aqueles que precisam de um bom exemplo para buscar a Deus; se queremos espalhar “o bom cheiro de Cristo” no mundo apodrecido pelo pecado; se queremos que a nossa luz brilhe diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a nosso Pai que está nos céus; se a nossa meta é ser cada vez mais parecidos com Jesus Cristo, então temos o desafio incontestável de manter a disciplina espiritual a qualquer custo.
Disciplina não é algo para certas ocasiões festivas. Disciplina é algo que nunca acaba, até que se alcance o objetivo. Foi o que descobrira a tripulação do navio norueguês Vistafjord. O engenheiro do navio havia convidado alguns ilustres passageiros para visitarem a ponte de comando. Olhando o equipamento de navegação, um dos convidados comentou que os instrumentos de latão brilhavam como se fossem ouro. “Quantas vezes vocês fazem o polimento disso?” – alguém perguntou. “Todo dia” – o engenheiro respondeu – “Assim que paramos de polir, já começa a embaçar”.
A disciplina espiritual, por sua vez, não é algo para “dias santos”, ou aos domingos nas igrejas. Há pelo menos três coisas que, se exercitadas disciplinadamente, ajudarão com certeza a manter a pujança de uma vida espiritual vitoriosa.
A primeira é o louvor. O rei Davi, embora muito ocupado em guerrear contra os inimigos e em governar o seu país, afirmava: “Todos os dias te bendirei e louvarei o teu nome para todo o sempre” (Sl 145.2). Não devemos ser como as pessoas que só louvam ao Senhor nos cultos públicos, esquecendo-se que o louvor é para ser parte do nosso cotidiano. E, com certeza, há inúmeros motivos para louvarmos a Deus todos os dias. Basta querer e buscar exercitar-se nessa bendita motivação de um coração agradecido.
A segunda é a leitura e meditação na Palavra de Deus. Os discípulos de Jesus na igreja que estava em Bereia “receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” (At 17.11). Não devemos ser como aqueles que só lêem “na Bíblia do pastor”, quando este faz a leitura de uma passagem durante o culto público aos domingos. Podemos dizer como o salmista: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz para os meus caminhos” (Salmo 119.105).
A terceira é a prática da oração perseverante, como Jesus ensinou (Lc 18.1). Costumeiramente, Daniel “três vezes por dia, se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu Deus” (Dn 6.10). Não devemos ser como os que só oram durante as refeições ou quando enfrentam tribulações. Paulo ensinava que devemos experimentar viver “com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito” (Ef 6.18). 
À medida que a volta do Senhor se aproxima, os problemas ao nosso redor se agigantam: a maldade cresce a cada dia; os padrões de conduta que serviram de guia durante décadas estão ruindo diante de nossos olhos; crimes, injustiças e desrespeito crescem assustadoramente. Este é o mundo que precisa do nosso testemunho como “filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual devemos resplandecer como luzeiros no mundo” (Fp 2.15).
Assim, quanto mais aprimorada for a nossa disciplina espiritual, louvando a Deus, lendo e meditando em Sua Palavra, orando e buscando de coração ao Senhor, tão mais profundamente estaremos imersos na graça de Deus e aptos a servir como testemunhas de Sua salvação e bondade para com todos. 
A disciplina espiritual tem um grande valor. E a vitória que traz produz uma grande recompensa!

Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém


Publicação
DTC
 

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