Oscar Schmidt, reconhecidamente o maior cestinha de todos os tempos, foi um jogador de basquete extremamente disciplinado. Quando começaram a chamá-lo de “mão santa”, por causa das espetaculares cestas que marcava em cada partida, ele prontamente contestou: “Mão santa, coisa nenhuma; eu treino muito para ser preciso nos arremessos. Depois de cada treino com a equipe, para me aprimorar ainda mais, eu fico na quadra e pratico cerca de mil arremessos”. Isso é disciplina esportiva!
O grande pianista Ignacy Paderewski, músico por vocação e profissão, falando sobre a necessidade de praticar diariamente, disse: “Se eu não praticasse tocar piano por um dia apenas, ao tocar pra valer, eu notaria a diferença. Se eu perdesse dois dias, os críticos notariam a diferença. Se eu ficasse uma semana inteira sem praticar, o público notaria a diferença”. Isso é disciplina profissional!
O apóstolo Paulo, comparando a vida disciplinada de um atleta (que buscava reconhecimento humano) com a dele como seguidor de Jesus (que buscava a aprovação de Deus), afirmou categoricamente: “Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado” (1Co 9.25-27). Isso é disciplina espiritual!
A lição que fica desses exemplos é que não devemos ser inconstantes em nossa disciplina, qualquer que seja a nossa área de atividade. Mas, principalmente em termos espirituais, se queremos que a nossa vida seja um testemunho vivo atraente para aqueles que precisam de um bom exemplo para buscar a Deus; se queremos espalhar “o bom cheiro de Cristo” no mundo apodrecido pelo pecado; se queremos que a nossa luz brilhe diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a nosso Pai que está nos céus; se a nossa meta é ser cada vez mais parecidos com Jesus Cristo, então temos o desafio incontestável de manter a disciplina espiritual a qualquer custo.
Disciplina não é algo para certas ocasiões festivas. Disciplina é algo que nunca acaba, até que se alcance o objetivo. Foi o que descobrira a tripulação do navio norueguês Vistafjord. O engenheiro do navio havia convidado alguns ilustres passageiros para visitarem a ponte de comando. Olhando o equipamento de navegação, um dos convidados comentou que os instrumentos de latão brilhavam como se fossem ouro. “Quantas vezes vocês fazem o polimento disso?” – alguém perguntou. “Todo dia” – o engenheiro respondeu – “Assim que paramos de polir, já começa a embaçar”.
A disciplina espiritual, por sua vez, não é algo para “dias santos”, ou aos domingos nas igrejas. Há pelo menos três coisas que, se exercitadas disciplinadamente, ajudarão com certeza a manter a pujança de uma vida espiritual vitoriosa.
A primeira é o louvor. O rei Davi, embora muito ocupado em guerrear contra os inimigos e em governar o seu país, afirmava: “Todos os dias te bendirei e louvarei o teu nome para todo o sempre” (Sl 145.2). Não devemos ser como as pessoas que só louvam ao Senhor nos cultos públicos, esquecendo-se que o louvor é para ser parte do nosso cotidiano. E, com certeza, há inúmeros motivos para louvarmos a Deus todos os dias. Basta querer e buscar exercitar-se nessa bendita motivação de um coração agradecido.
A segunda é a leitura e meditação na Palavra de Deus. Os discípulos de Jesus na igreja que estava em Bereia “receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” (At 17.11). Não devemos ser como aqueles que só lêem “na Bíblia do pastor”, quando este faz a leitura de uma passagem durante o culto público aos domingos. Podemos dizer como o salmista: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz para os meus caminhos” (Salmo 119.105).
A terceira é a prática da oração perseverante, como Jesus ensinou (Lc 18.1). Costumeiramente, Daniel “três vezes por dia, se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu Deus” (Dn 6.10). Não devemos ser como os que só oram durante as refeições ou quando enfrentam tribulações. Paulo ensinava que devemos experimentar viver “com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito” (Ef 6.18).
À medida que a volta do Senhor se aproxima, os problemas ao nosso redor se agigantam: a maldade cresce a cada dia; os padrões de conduta que serviram de guia durante décadas estão ruindo diante de nossos olhos; crimes, injustiças e desrespeito crescem assustadoramente. Este é o mundo que precisa do nosso testemunho como “filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual devemos resplandecer como luzeiros no mundo” (Fp 2.15).
Assim, quanto mais aprimorada for a nossa disciplina espiritual, louvando a Deus, lendo e meditando em Sua Palavra, orando e buscando de coração ao Senhor, tão mais profundamente estaremos imersos na graça de Deus e aptos a servir como testemunhas de Sua salvação e bondade para com todos.
A disciplina espiritual tem um grande valor. E a vitória que traz produz uma grande recompensa!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Publicação
DTC
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