Karl
Menninger em seu livro “What Ever Became of Sin (em Português, algo
como “De que é feito o pecado”), narra uma estranha cena, ocorrida em um
dia ensolarado de setembro de 1972, na esquina de uma agitada rua de
Chicago, nos Estados Unidos. Um homem bem vestido e de feições severas
postou-se parado na esquina, enquanto os pedestres corriam de um lado
para outro em seus afazeres. Então, ele solenemente levantava o seu
braço direito, apontava para a pessoa que lhe estava mais próxima e, em
voz alta, pronunciava uma única palavra: “Culpado!” – se fosse um homem;
e sendo mulher, bradava: “Culpada!”
Sem
nenhuma outra expressão e sem sequer alterar o seu semblante, ele então
voltava à posição inicial para, minutos depois, repetir o mesmo gesto. A
cena era grotesca. O homem parecia um daqueles loucos que aparecem de
vez em quando, em qualquer lugar do mundo, com suas bizarrices. Mas,
temos de admitir, ele era um louco dizendo a verdade.
O
seu gesto causava um efeito quase assustador nos transeuntes. Estes
ficavam olhando para o “acusador”, hesitavam momentaneamente,
viravam-se, olhavam para ele novamente, para então seguirem o seu
caminho.
De
fato e sem sombra de dúvida, todos aqueles para quem ele apontou eram
realmente culpados. Isto porque o pecado é universal, uma vez que “todos
pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23).
Quando
Marilyn Laszlo estava traduzindo a Bíblia para o povo Hauna, da Nova
Guiné, ela chegou à palavra “pecado”, e então perguntou ao próprio povo o
que eles pensavam que isto significava. Eles responderam: “É quando se
mente”; “é quando alguém rouba”; “é quando matamos”; “é quando alguém
toma a mulher do outro”. Sem jamais terem lido a Bíblia, eles estavam
falando sobre o padrão de Deus conforme mostrado nos Dez Mandamentos.
Isto porque eles “mostram a norma da lei (de Deus) gravada no seu
coração” (Rm 2.15).
O
problema é que essa mesma lei, em vez de nos ajudar, apenas serve para
mostrar que todos somos pecadores e, portanto, fomos escravizados pelo
pecado. Como Jesus asseverou: “Todo o que comete pecado é escravo do
pecado” (Jo 8.34).
Mesmo
que alguém se ache um pecador de pequena monta, ainda assim, como dizia
o doidinho na esquina, é culpado. E se alguém disse que não tem pecado,
mesmo assim é culpado. Está escrito: “Se dissermos que não temos pecado
nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” (1Jo
1.8). Alguém disse que a pior forma de insanidade é negar a culpa de
alguém que vive no pecado e na descrença.
Foi
para nos libertar do pecado e de todas as suas mazelas que Jesus veio
ao mundo. Foi por amor que Ele morreu na cruz, para pagar a pena por
nossos pecados, como está escrito: “Todos nós andávamos desgarrados como
ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre
ele a iniquidade de nós todos” (Is 53.6).
A
morte reconciliadora de Jesus é uma verdade tão profunda que os
estudiosos foram incapazes de analisá-la completamente. Mas como
entender um gesto de amor supremo do próprio Filho de Deus, que era
inocente e justo, ter morrido para pagar a pena por nossos pecados?!
Foi
uma substituição: um homem inocente e justo carregou os pecados de toda
a humanidade, pagando o seu preço. Foi assim que “a graça de Deus se
manifestou salvadora a todos os homens” (Tt 2.11).
Mas como entender minimamente esse mistério?
O
músico e pastor Cliff Barrows conta que certa feita seus filhos Bobby e
Betty fizeram algo errado. Embora tenham sido gentilmente repreendidos,
tornaram a fazer a mesma coisa e precisaram ser disciplinados. O
coração de pai amoroso de Cliff doeu ao pensar que teria de punir
aqueles pequeninos que tanto amava.
Assim,
chamou os dois em seu quarto, tirou o cinto e a camisa, e então, com as
costas nuas, ajoelhou-se ao lado da cama. Ele falou para cada filho
bater-lhe dez vezes com o cinto, porque ele próprio, em vez de puni-los
merecidamente, iria tomar o lugar deles no castigo. Ah, como eles
choraram! Mas a pena precisava ser paga. As crianças soluçavam enquanto
batiam nas costas do próprio pai. Depois disso Cliff os tomou num
apertado abraço, beijou-os e então eles oraram juntos. “Doeu” – ele
recorda – “mas nunca mais precisei bater neles”.
Jesus
foi chicoteado por todos nós, relativamente falando. Ele tomou sobre Si
todos os nossos pecados e carregou todas as nossas culpas, realizando
uma plena e eterna salvação. Isso é graça de Deus! Tudo o que precisamos
fazer agora é aceitar o Seu sacrifício e receber o Seu perdão. Isso é
fé em Deus! E assim, seremos Seus filhos, e o Seu amor inundará o nosso
coração de uma paz que excede todo o entendimento (Fp 4.7). Isso é
comunhão com Deus!
Depois
disso, num gesto recíproco de amor, poderemos devotar a Deus o restante
de nossas vidas, pois a culpa não é mais nossa; Jesus a carregou
definitivamente, deu cabo dela, extinguindo-a totalmente. Agora é só
graça!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Publicação:
D.T.C.
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