Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Duas
questões ficam sempre patentes num mundo marcado por sofrimento e dor,
perdas e lágrimas, tragédias e males. A primeira questão trata da nossa
esperança, e consiste numa dúvida existencial: se tenho de viver diante
da incerteza quanto ao futuro, o que posso esperar da vida? A segunda
tem a ver com um paradoxo: se Deus é tão bom e poderoso, por que permite
que haja tantos males e sofrimentos no mundo?
Na
primeira questão, normalmente, a abordagem mais geral e simplista é a
de que o mundo vai de mal a pior, portanto, muitos ficam com a nítida
impressão de não haver nenhuma esperança à vista. Mas isto, além de
gerar desespero nas pessoas, aponta para uma outra realidade, o
desconhecimento (ou descrença) do que Deus afirma na Palavra sobre nossa
esperança futura.
A Bíblia diz que este mundo com todas as suas mazelas passará, que
haverá “novo céu e nova terra” e que “Deus habitará conosco” num mundo
de justiça e paz. Nessa nova ordem, Deus “enxugará dos olhos toda
lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem
dor” (Ap 21.4). Assim, a última palavra sobre o destino deste mundo
pertence a Deus, cujo poder restaurará todas as coisas ao estado
original de harmonia e paz. E aqueles que receberam Jesus como Senhor e
Salvador são os que vivenciarão esse privilégio.
A
segunda questão, sobre Deus permitir a existência dos males no mundo,
acena com um simplismo ainda maior. Para alguns, Deus poderia
simplesmente acabar com o mal, se Ele quisesse. Mas a resposta, decerto,
tem a ver com nossa capacidade de escolher, de usar o livre-arbítrio
que Deus nos concedeu. Deus nos criou à Sua imagem e semelhança, e isso
inclui a liberdade de fazer escolhas morais e éticas. Essa capacidade de
decidir é essencialmente uma bênção, mas pode ser também uma maldição.
Pode gerar vida, mas também morte. Isto porque escolher nos torna
responsáveis pelas próprias decisões que tomamos.
Deus
poderia nos ter criado de modo diferente, seres sem vontade própria,
marionetes comandados pelos cordéis divinos, robôs programados para
executarem determinadas funções, entes cuja existência alienada
eliminaria os conceitos de obediência e amor. Se Deus simplesmente
removesse a nossa habilidade de escolher, o mal desapareceria. Mas
também não mais poderíamos optar entre amá-lo e obedecê-lo, ou não.
No
entanto, Deus não deseja que vivamos uma fantochada. Ele deseja ser
amado e obedecido por criaturas que escolhem voluntariamente fazê-lo,
pois o amor jamais será genuíno se não existe a opção de não amar. Se
Deus tirasse dos maus a capacidade de fazer o mal, ele deveria
igualmente tirar dos bons a capacidade de fazer o bem. Mas Deus quer que
eu e você olhemos para a fealdade do mundo e possamos dizer que a nossa
opção continua sendo a de fazer o bem, não porque somos forçados, mas
porque amamos a Deus e queremos fazer a Sua vontade.
Sempre
que ocorrem tragédias é muito comum ouvirmos pessoas buscarem consolo
na afirmação simplista de que “aquilo” foi a vontade de Deus. Mas isto
está longe da verdade! Nós vivemos num mundo de livre-arbítrio, no qual a
vontade de Deus raramente é realizada! Enquanto muitos oram
hipocritamente para que Deus faça a Sua vontade, o mais comum é que
realizem a qualquer preço suas próprias vontades egoístas.
Por
que crianças morrem de fome? Por que são gastos bilhões de dólares em
armamentos? Por que as guerras exterminam civis inocentes? Por que há
ódios e rancores entre povos e nações? Por que morrem centenas de jovens
numa boate? Quem poderia, em sã consciência, dizer que “isso” seria
vontade de Deus?
Não
culpe Deus pelos males do mundo. A culpa deve ser posta em pessoas que
ignoram a vontade perfeita de Deus. Jesus ensinou que devemos amar o
nosso próximo como a nós mesmos, amar os inimigos (não a gostar deles),
em fazendo o bem a todos.
Deus
nos criou e sabe como funcionamos. A Bíblia, o “Manual do Fabricante”,
nos indica o caminho da nossa felicidade plena. Mas Deus jamais nos
obrigará a obedecê-lo; a decisão é nossa. Imagine que alguém compre um
eletrodoméstico e faça tudo diferente da orientação do manual. Haveria
alguma possibilidade de reclamar garantia?
Deus
diz: “Tenho te proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição;
escolhe, pois a vida, para que vivas” (Dt 30.19). Precisamos fazer a
vontade de Deus. Mas o único lugar onde a vontade de Deus é realizada
perfeitamente é no Céu. Esta é a razão de não haver ali lágrimas, dor,
mal.
A
Terra, porém, é um lugar imperfeito por causa do pecado e das nossas
escolhas egoístas. A felicidade está ligada à escolha de fazer a vontade
de Deus todos os dias. Isto não é automático, depende de uma decisão
nossa e da ajuda de Deus. É por isso que Jesus nos ensinou a orar: “Seja
feita a tua vontade assim na Terra como no Céu”.
Deus
está pronto para confortar-nos e dirigir-nos no meio das nossas
angústias, dores e pesares. Mas Ele espera que essa escolha seja nossa.
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