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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O efeito Colombina

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Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém


Colombina era o pivô de um triângulo amoroso “carnavalesco” que ficaria famoso no mundo todo — de um lado, o apaixonado Pierrot, uma figura ingênua, sentimental e romântica; do outro, Arlequim, um espertalhão preguiçoso e insolente. Colombina, serviçal bela e refinada, era a figura da indecisão, que se aproveitava dos dois “amores” a seu bel prazer ou quando conveniente, querendo dar a alma a Pierrot (figura do amor puro e verdadeiro) e o corpo a Arlequim (tipo da paixão repentina e arrasadora). Pierrot e Arlequim acabam sendo estereótipos das projeções da alma hesitante e conturbada de Colombina.
No carnaval, especialmente, o efeito Colombina se manifesta de um modo muito mais efetivo em alguns que se dizem “evangélicos”, que não sabem se decidir entre expressar o amor puro e verdadeiro de uma vida compromissada com o Senhor, e viver uma repentina e avassaladora paixão pelos prazeres do mundo. Alguns causam espanto e escândalo por causa desse mau proceder. Com efeito, ninguém pode servir a dois senhores (Mt 6.24).
Algumas “evangélicas” famosas e de coração dividido, como Colombina, desfilaram nas passarelas do carnaval, enquanto alguns “crentes” anônimos não resistiram e, igualmente, caíram na folia. Não é sem razão que o nome do Senhor é blasfemado, quando os evangélicos recebem esse nivelamento “por baixo”, embora isso não seja algo novo.
Sentindo-se incomodado por situação semelhante, o Senhor Jesus se pronunciou desafiadoramente no Sermão do Monte: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos pés de urtiga? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7.15-20).
Quando Jesus comparava a vida humana com uma árvore e seu fruto, chamava a atenção para o perigo de nos deixarmos enganar pelas aparências, isto é, o perigo de alguém parecer um crente, sem o ser de fato. A diferença entre o verdadeiro e o falso seria conhecida pelo fruto bom ou mau que produzisse. Sempre há quem tente se fazer passar por evangélico ou crente, pelo simples fato de adicionar certos ingredientes do caráter cristão à sua vida pessoal, ao invés de tornar-se uma nova criatura, sem receber na realidade a transformação de sua própria natureza interior.
O fruto atesta o caráter de uma pessoa; e o que ela é, de fato, mais cedo ou mais tarde será revelado. Um evangélico pode até falar de modo correto, agir e viver aparentemente da maneira certa, mas pode ser um “falso profeta”. Alguém pode ter um bom temperamento, índole gentil, boa educação, mas mesmo assim não ser convertido. Em suma, um dia a máscara cai. Como disse Jesus: “Nada há oculto, que não haja de manifestar-se, nem escondido, que não venha a ser conhecido e revelado” (Lc 8.17).
Há quem se ache crente apenas por cumprir certos rituais, como batizar-se, pertencer a uma igreja e ir aos cultos etc. Mas isso pode ser apenas um simulacro do verdadeiro comportamento cristão. Antes, ser crente aponta primariamente para uma radical transformação interior pelo poder do Evangelho na própria natureza do indivíduo. Não basta parecer, tem de ser.
Esse tipo de “crente” que vive o efeito Colombina é muito mais inimigo da cruz de Cristo e, portanto, muito mais perigoso à fé cristã do que aqueles que amam o mundo ou os que perseguem aberta e injustamente os crentes.
A mensagem de Jesus é clara: se não houver mudança interior através do novo nascimento, não haverá salvação (Jo 3.3). A pessoa pode até ser batizada, mas o que de fato aconteceu é que entrou nas águas um “pecador enxuto” e saiu um “pecador molhado”.
Quando Colombina tira a máscara, ela também descobre que caiu na cilada da indecisão; seu verdadeiro caráter é revelado. Assim também em relação ao evangélico não convertido, no qual se cumpre este vaticínio: “Portanto, se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro. Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado. Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: a porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal” (2Pe 2.20-22).
Quem bebe das “águas barrentas” do carnaval tornará a ter sede, como a Colombina Samaritana de muitos amores (Jo 4.5-14). Todavia, quem beber da água que Jesus lhe der, nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que Jesus lhe der ser-lhe-á uma fonte a jorrar para a vida eterna.
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